Semanalmente estão à venda, em “quiosques”, nas tabacarias e mesmo em algumas livrarias, as chamadas revistas cor-de-rosa, todas com uma tiragem entre 100 000 e 200 000 exemplares, nas quais trazem as conhecidas “celebridades” da nossa praça. Gente convencida e ornamentada de jactância...as famosas: Lili Caneças, José Castelo Branco, Cinha Jardim (com as suas filhas, a Pimpinha e a Isaurinha), Elsa Raposo, João Kléber, Gonçalo Diniz ou Cristina Lito e outras que tais. Para muitos portugueses, a vida destes indivíduos é tão ou mais interessante do que a dos seus familiares e amigos. A pergunta que se questiona é: Tratar-se-á de um entretenimento inofensivo ou representará um “abastardamento da cultura ocidental”?
Por muito que isso nos possa custar, a emergência deste tipo de celebridades é uma consequência da democratização. Desde que surgiu aquele “abimbalhado” passatempo intitulado “Big Brother”, a “celebridade” passou a estar ligada à emoção, à sorte e ao disparate. Farto das excelências e do curso d’arte de representação, o povo invadiu os ecrãs. Da televisão, da Rádio e da imprensa, pouco é agora exigido: apenas que nos distraiam das realidades quotidianas, que nos emocionem da forma mais simples possível e que nos façam rir com as suas imbecilidades. Numa sociedade que perdeu quaisquer referências heróicas, todos os “Bimbos”, podem vir a ser famosos. Basta inscrever-se…saber contar "histórias da carochinha", anedotas "badalhocas", ser graxa, dançar, bater palmas e cantar “o fado da ceguinha”!
Não vale a pena acusar a televisão ou as “revistas cor-de-rosa” por este estado de coisas. A culpa, se de culpa se trata, não é apenas dos media, mas de quem assiste a isto… sem uma palavra de protesto. No fundo, as “celebridades” não só retratam, fielmente, o nosso país, como reflectem também, o pensamento dominante. Antigamente, os nossos heróis – o que hoje chamaríamos Celebridades – eram figuras que nos impressionavam pelo valor guerreiro e Histórico, pela busca da excelência, pela criatividade e oratória. Veja-se o caso de Sócrates (o verdadeiro), o qual devotou a vida a tudo questionar, despertando nos alunos o interesse pelo Saber. As estrelas que para aí temos nada exigem de nós, a não ser que as adulemos. Isto é grave. E, como um mal nunca vem só, a moda dos “conhecimentos” esotéricos, a astrologia, a grafologia e o “Tarot”, ganhou novo alento.
Caros Amigos, já repararam que o espaço deixado vago pelas ideias de História, Progresso e Razão, está a ser, hoje, vandalizado, ocupado por Charlatães e “Pantomineiros”! Hoje, nem é preciso ousadia, manha ou esperteza para se subir ao trono. A celebridade tornou-se num fim em si: é-se célebre porque…sim! Basta mostrar a cara, um par de “mamocas” (ao léu), umas “beiças” carnudas e coloridas a vermelho...basta mostrar todos esses "apetrechos" físicos, na Televisão e…pronto! É uma celebridade! Acabou de ser eleita uma “vedeta”! Estas celebridades habitam, geralmente, em jardins…onde só crescem plantas daninhas!
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